Hoje vamos falar sobre um assunto que interessa a todos os artesãos e que é uma dúvida muito comum: como calcular o preço final da suas peças.
Entre os artesãos, a reclamação é sempre a mesma, que não valorizam o trabalho, reclamam do preço da peça, falam que está caro e etc. Em qualquer lugar é sempre a mesma reclamação e aí eu cheguei a uma conclusão, infelizmente muito ruim, que quem não valoriza o artesanato, quem não valoriza as peças somos nós mesmos, os artesãos. e sabe porquê que a gente não sabe o nosso próprio valor? Quanto você cobra pela sua hora de trabalho? Ficou na dúvida? Tenho certeza que muitos de vocês não têm essa resposta. E isso é muito ruim, porque se não sabemos o nosso próprio valor, como queremos colocar preço nas nossas peças e queremos que o outro valorize o nosso trabalho.
O que é mais comum de ouvir e que praticam muito ainda, é a formulazinha de multiplicar por três tudo o que foi gasto. Vamos imaginar que você gastou 10 reais de material para poder fabricar aquela peça, então você pega 10 reais multiplica por três, e o resultado são 30 reais. Aposto que muita gente utiliza essa fórmula pra colocar o preço final na peça. Só que existem dois motivos muito sérios, para abolir de vez essa fórmula, porque ela não está correta.
Primeiro vamos entender por que as pessoas multiplicam por 3. Uma parte material, uma parte é a mão de obra, e uma parte é o lucro. Quando você multiplica por três, um terço sempre será o valor da sua mão de obra. independente da peça que você fizer a sua mão de obra sempre valerá um terço. Mas vamos fazer agora um raciocínio lógico, um bico de pano de prato simples que você faz em uma hora a duas horas no máximo, não se compara por exemplo, com um jogo de banheiro completo que leva em média 20 horas. Você acha que essa fórmula é coerente? Claro que não! É óbvio que uma peça que você gasta mais tempo a mão de obra é muito maior, então é óbvio também que essa peça vai ter um valor maior.
O segundo motivo é o seguinte, quando multiplicado por três, está levando em consideração apenas um fator, custo de material. Para você ter uma noção, vamos exemplificar com um sapatinho de bebê. Considerando por exemplo, que um novelo Anne de 500 metros dá pra fazer em torno de dez sapatinhos de bebê, e o preço de um novelo Anne custa em média R$ 10,00, (é claro que esse valor pode variar de região para região). Então se com um novelo de 10 reais eu faço dez sapatinhos, eu gasto de material em cada sapatinho de bebê apenas 1 real, não é mesmo? Então se eu aplicar a fórmula, pegando tudo que eu gasto e multiplicar por três, o que vai acontecer? Um real que eu gasto em um parzinho de sapatos, multiplicado por três, daria apenas R$ 3,00. Agora eu te pergunto, porque você deve vender esse parzinho de sapatinho a 3 reais? Não é viável, concorda comigo?
O que você gasta de material é o de menos, o mais importante é a sua mão de obra. E é justamente na mão de obra que eu tenho que me basear para poder formular o meu preço final.
E quando multiplicamos por três a mão de obra vale o mesmo terço, não importando se em uma peça você gasta vários dias, ou gasta pouquinho tempo. Imagina por exemplo, se em uma feira livre as artesãs ao invés de preços nas peças, tipo R$200 R$150 R$300, estivesse ali anotado quanto tempo que o artesão levou para fazer cada uma daquelas peças, 10 horas, 20 horas, 30 horas. Você olharia para a peça com outro olhar, não é verdade?! E é isso que alguns artistas estrangeiros na Europa e Estados Unidos fazem, eles usam esse método de apresentar a peça e não colocam preço, mas sim valor agregado, o tempo que foi gasto para a execução daquele trabalho. E é isso que eu quero trazer para você, essa cultura, esse entendimento de que você precisa agregar valor, e passar o valor do seu trabalho e não o preço. Quando o cliente entende o valor, ele pagará o preço.
COMO CALCULAR CORRETAMENTE
Como então vai funcionar na prática? Como fazer esse cálculo?
Você precisa saber o tempo gasto para a confecção de cada peça. Isso precisa ser registrado, e isso é o mais importante. Crie o hábito de anotar tudo,(inclusive tudo que gastou com material) todas as horas investidas na peça, coloque o nome da peça e as horas. Você deu início as 8 horas da manhã,então registre 8 horas. Precisou dá um tempo naquele trabalho, você volta para a caderneta e anota o seu tempo de pausa, por exemplo as 12:00. E novamente quando retornar da pausa, você registra na caderneta, anotando outro início, as 14 horas por exemplo. você precisa desconsiderar as pausas e só o tempo que foi de um início até uma pausa, e somando, no final você tem o tempo total que foi gasto para executar aquela peça. Uma dica importante, existem muitos trabalhos em que as carreiras são idênticas. Então o que você pode fazer é anotar o tempo de uma carreira, começou a carreira, anota o tempo, quando terminar aquela carreira registra quanto tempo foi gasto, 20 minutos, 10 minutos e só isso, depois não precisa se preocupar mais em registrar, porque como as carreiras são idênticas ao final você só tem que multiplicar pelo tempo que você gastou para uma carreira.
Mas somente essa informação não é suficiente para você colocar o preço final na sua peça. Você precisa também chegar à seguinte conclusão, quanto vale a minha hora? Dependendo do valor da sua hora é que você vai fazer a multiplicação pelo tempo que foi gasto para fazer aquela peça, então de onde é que você vai tirar esse valor da sua hora? Isso é uma coisa muito pessoal, só você tem que levar em consideração. Também é preciso chegar a um valor que seja viável, que dê um preço final que seja pagável. Vamos dar um exemplo, você decidiu ganhar R$ 2.000 reais por mês, trabalhando de segunda a sexta, 6 horas por dia, então você trabalha 30 horas por semana. Considerando um mês de quatro semanas, vai dar 120 horas por mês. Então, a conta que você precisa fazer é dividir os 2.000 reais pelas horas totais trabalhadas por mês. Ou seja, 2.000 dividido por 120 horas, que resultará em R$ 16,70 a hora. Lembrando que você precisará fazer essa conta, apenas uma vez. Isso é necessário para descobrir o valor da sua hora trabalhada.
Para este exemplo, a sua hora vai valer 17 reais (arredondando o valor). Porque você pretende fazer uma renda de 2.000 reais por mês, você precisa verificar na caderneta as horas totais gastas em cada peça. Por exemplo se você fez um tapete e gastou 10 horas
para confeccioná-lo, então só precisa multiplicar 10 x 17,00 = 170 reais de mão-de-obra. Mas ainda tem que levar em consideração o material que foi usado. Se gastou gastou um novelo barroco algo em torno de 20 reais, então vai valer 190,00 o valor final de venda desse tapete. Vamos considerar também um outro exemplo, onde a peça gastou menos material. Se você não gastou o novelo inteiro, então como vai calcular? É só verificar quantas peças dá pra fazer com um novelo. Se com um novelo dá pra fazer 4 peças, e se o novelo é 20 reais, você divide os 20,00 dividido 4 = 5,00.
Ou seja, o valor final de sua peça será nesse exemplo, o valor de mão de obra + o gasto com material (170,00 + 5,00 = R$ 175,00).
Imagine agora uma outra situação. Você trabalha de segunda a sexta em uma empresa, e está precisando realmente de uma renda extra mas só pode se dedicar a esse trabalho aos finais de semana. Porém, trabalhando aos finais de semana, terá mais disponibilidade de horas, e vai poder dedicar 8 horas por dia, então são 16 horas que você terá para se dedicar por semana. Então, multiplica 16 horas por semana por 4 semanas, o resultado são 64 horas por mês.
E se a sua pretensão é ter uma renda extra por exemplo, de 1.200 reais, você divide 1.200 reais pelas 64 horas do mês que você poderá trabalhar, dá um total de 18,75. Arredondando esse valor para 19 reais, esse será o valor da hora.Por fim, fará a mesma coisa do exemplo anterior, multiplicar os 19 reais pela quantidade de horas que levou para produzir a peça, e depois somar com o material. Quando você faz a conta dessa forma está valorizando a sua mão de obra.
Então, se valorize como artesão, valorize a sua peça e o tempo investido para produzi-la. Descubra o valor de sua hora mediante ao que pretende lucrar por mês e multiplique pelos números de horas investido na construção da peça, some com o valor investido no material, e por fim vai descobrir o valor final de sua peça.
Parece complicado, mas não é. Depois que você entende e começa a praticar, se torna algo simples. Mas talvez você tenha achado complicado demais essa tarefa de precificação, digamos manual.
Talvez você prefira praticidade, ou não tem muita paciência com matemática. Hoje, com a expansão do mercado de artesanato, existem muitas maneiras automatizadas para organizar essas questões financeiras, como o uso da Calculadora Online por exemplo, uma ferramenta que tem auxiliado muitos artesãos nessa tarefa tão importante. E o melhor, otimizado tempo, que é algo tão precioso. Mas se você é fã da velha e boa caderneta, faça uso dela. O importante é se organizar, para que você não tenha prejuízos, mas sim, colha os melhores resultados de seu trabalho.
Lembre-se sempre que, se o cliente entender o valor de seu trabalho artesanal, ele não vai se preocupar com o preço.
Espero ter contribuído para o crescimento de seu negócio!
Muito sucesso para você!
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